QUE SERVE COmO OUTROS DOCs SERVIRÃO DE BASE PARA A REUNIÃO DO DIA
14/11/2013:
Ilma. Sra. Ângela Maria Paiva Cruz
Magnífica Reitora da UFRN
Ilmo Sr. Prof. Herculano Ricardo Campos
Diretor do
Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN
Ilmo. Sr. Marcos
Alberto Andruchak
Chefe do Departamento de Artes da UFRN
Somos
pessoas comuns, pequenos ou grandes grupos de anônimos com nossas necessidades,
ansiedades e esperanças... todas carentes do que merecemos: e merecemos mais!
Nós, estudantes e artistas reunidos em
caráter urgentíssimo, viemos, através do presente expediente, expor nosso
posicionamento a respeito da recente ocupação do prédio do Departamento de
Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (DEART-UFRN), conforme
descrevemos a seguir.
Aos 07 dias de novembro corrente, turno
vespertino, ocorreu no entorno do DEART uma intervenção artística, envolvendo
artistas e estudantes ligados a esta Instituição de Ensino Superior, assim como
integrantes da comunidade externa.
Na ocasião, diversos tons de expressão e
protesto foram se delineando, com uma postura aberta e explícita que tinha,
para a maioria dos interventores, o propósito de expor descontentamentos,
evocar sua liberdade de expressão e, principalmente, demarcar sua identidade
artística num ambiente que, embora acadêmico, não pode abandonar o ethos que a todos une: a arte.
Interpretando-se tal episódio como um
atentado à ordem e ao patrimônio, ato contínuo, diligenciou-se a retirada do
espaço de convívio construído e cuidado pelos alunos do Departamento, designado
“garden”, fato que resultou em ainda mais grave descontentamento de seus
frequentadores, eclodindo na dita ocupação, a partir da noite de 07/11/2013.
Diante da crescente repercussão do ato,
a ela se agregaram outros interessados, mesmo que sem qualquer envolvimento com
a causa acadêmica e artística que aqui defendemos, vislumbrando nossa atitude o
pleno reconhecimento de nossa identidade de artistas, bem como o
aperfeiçoamento das condições de ensino, aprendizagem e expressão desenvolvidas
no âmbito do Departamento e da Universidade.
Assim como vem ocorrendo nos últimos
protestos de massa em todo mundo, estamos agora diante de um cenário que
envolve muitos sujeitos, muitas causas e muitas formas de enunciação. Sem
lideranças e sem demandas definidas, eclode uma multiplicidade de ações, com
atores e motivações diversas, o que coloca qualquer analista diante de um novo
desafio.
Porém, existe um grupo de artistas que
possui causa e demandas definidas, restando claro que, para muitos, não se
trata o atual cenário de um mero ato de rebeldia, de uma anarquia em
descontrole ou de um vandalismo que destrói. Ao contrário, estamos cientes de
que se trata de uma erupção de viés político, que pode oportunizar a todos -
alunos, artistas e gestores – a construção de um novo espaço acadêmico e
artístico, pautado no atual paradigma democrático e que, por isso, há de
abraçar a regra da liberdade.
Como sucedâneo desse tal princípio
democrático - que uma instituição universitária deve sempre preservar -,
tomamos como pauta primeira de nossa causa o reconhecimento da identidade dos
cursos e dos alunos ligados ao Departamento de Artes da UFRN. Isso porque a
arte nunca admitirá sua redução a um conjunto de conteúdos programáticos, pois
será sempre mais genuína na atitude e no desenvolvimento de talentos do que nas
tentativas de abstrações teóricas, não obstante sua também reconhecida
importância.
Com isso, a arte, assim como a educação,
coloca-se como mais uma forma de expressão política, passando a integrar
definitivamente este universo – o universo da política -, antes reservado às
antigas aristocracias, aos burocratas e aos fidalgos das grandes elites.
Esse encontro entre arte e política é
facilmente detectável, sendo possível elencar vários exemplos ou episódios que
marcaram sua trajetória ao longo dos tempos. Tomando um destes precedentes,
basta ressaltar que a história sempre revelou a repressão do “diferente” como
uma das marcas dos regimes autoritários, o que inevitavelmente impactou nos
movimentos artísticos, seja sufocando-os, seja dando-lhes novos contornos,
enquanto forma de resistência e crítica e resultando num potencial criativo sem
precedentes. Em outras palavras, tanto ou mais que os protestos políticos
organizados, a atitude artística desviante era considerada uma ameaça que
merecia ser fulminada, neutralizada e abafada.
O que nos serve como lição é que toda
insurreição busca uma libertação. Desde a mais antiga e desconhecida das
revoluções, o que temos como certo é que nunca mais cessarão de ocorrer.
No cenário ao qual nos reportamos
(UFRN), sem lideranças ou heróis para nos representar, estamos aqui nos
“insubordinando” principalmente contra a indiferença quanto à nossa identidade
e às nossas necessidades, inclusive contra o esquecimento daquilo que somos
quando são pautadas as prioridades ou políticas institucionais.
Ao buscar despertar a atenção desta
Universidade para nossa pequena multidão, parece ser uma automática sensação
aquela de estranhamento, pois soa como se a comunidade universitária passasse a
sofrer a “imposição” de um convívio com estes “estanhos” integrantes: os
artistas.
Contudo, não é o caso de repetir-se
aquilo que muitos tentaram realizar quando os primeiros manifestos de massa
surgiram na história ocidental, numa proposital tentativa de demonizá-los,
descredenciá-los e, agora, de criminalizá-los.
Como bem designou Rosa Luxemburgo, o recente
episódio nada mais é que nosso “espontaneísmo”, nossa potência criativa, nossa
autenticidade instintual e, quem sabe, até nossa ingenuidade. Contudo, disso pode-se
extrair um qualitativo avanço para a maturidade democrática institucional, pois
ao “desordenar a ordem” também podemos sair da paralisia e da rotina que não
nos serve mais.
Por tal motivo é que, em busca de dar
direção a tal espontaneidade e potência, elencamos abaixo os aspectos que requerem
desta Universidade um posicionamento comprometido e breve, ante a urgência que
tais questões evocam:
0)
Imediata retratação pública por parte do Ilmo. Sr. Marcos Alberto Andruchak, Chefe
do Departamento de Artes da UFRN, encaminhada a cada aluno da instituição pelo
sistema integrado de gestão de atividades acadêmicas, de forma a esclarecer o
equívoco da retaliação administrativa.
1)
Reconhecimento da identidade artística
dos alunos e professores do Departamento de Artes, assim como uma maior
apropriação do universo da criação e expressão artística, garantindo-lhe
espaços de manifestação;
2)
A constituição de comissões de revisão
dos Projetos Político-Pedagógicos dos Cursos do Departamento, vislumbrando uma
maior busca e desenvolvimento da identidade artística;
3)
Planejamento e construção de
infraestrutura hábil a atender às necessidades de criação e expressão artística
de discentes e docentes dos cursos;
4)
Instalação de biblioteca setorial, com
renovação/ampliação de acervo e serviço completo de atenção aos usuários, nos
três turnos de funcionamento das atividades acadêmicas;
5)
Restauração do espaço de convívio de
alunos no entorno do Departamento: garden;
6)
Oferta de serviço de reprografia no
prédio do Departamento, incluindo-se nos termos de referência de processos licitatórios
a previsão de atendimento a todos os setores e espaços de desenvolvimento de
atividades acadêmicas da Universidade;
7)
Ampliação da oferta de cursos de
formação continuada, sobretudo Stricto
Sensu (mestrado e doutorado), nas diversas áreas ligadas às artes;
8)
Planejamento de Política de Divulgação
Artística e Científica para o Departamento de Artes, com criação de periódicos
que contemplem a produção de docentes e discentes dos cursos;
9)
Ampliação de políticas de bolsas de
estudos no âmbito da Graduação e Pós-Graduação;
10) Realização
de processos seletivos para professores efetivos com requisitos acadêmicos e de
experiência profissional que atendam às necessidades autênticas do curso ou
conteúdo a que se destina a vaga objeto do concurso público;
11) Garantia
institucional, pública e oficial, de que não haverá qualquer criminalização ou retaliação
(judicial ou administrativa) à ocupação ou intervenção já realizada neste
Departamento de Artes, assim como experimentos, testes, ensaios ou estudos
artísticos.
Neste ambiente, esperamos contar com a
atenção das autoridades aqui endereçadas, requerendo-se o agendamento de
audiência nas três (ou com as três instâncias mencionadas), abrindo-se um
espaço de diálogo e melhor apropriação dos aspectos aqui elencados.
Termos em que, subscrevemos e pedimos
deferimento.
Natal, 11 de novembro de 2013.
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